Poemas publicados

A MOÇA E A PONTE

A ponte é longa
e a moça que a atravessa
tem as cores luminosas do verão.

De tão longa a ponte,
a moça solta-se e canta e dança
e nem os pilares frios da ponte
escapam do seu encanto.

A graça longa da ponte
é feita de tantos temperos
que o ritmo da vida de quem a vê
cede e se comove.

Não há no ar o menor indício
mas no final a ponte prepara
um precipício.

Armazém de ecos e achados, 2001

MAR ABERTO

Por frestas,
toco a luz que se escancara
para além dessas treliças.

Por farpas,
tenho gotas de oceano
e sede, e sede,
e sede.

O olho das águas, 2009

MARULHOS

Um sonho feito balão
pressente o rumo do mar,
que chão de mar é molhado
e liso e fofo e alado
como carece ser chão
pra empinar sonho e gente.

Escafandrista de sonho
não diz que mar não dá pé.
Mergulha os olhos na água,
não dá bola pra marola,
ignora sombra e lama,
olha e vê, como vê!

Vê que gaivota é um peixe
que pulou fora do mar.
Daí que olhar seus avanços,
balanços e acrobacias,
traz um ar de nostalgia.
Saudades do vasto mar?

Vê a vida o mareante,
cavalga as algas e areias,
descasca o fruto-mar.
Aí se acendem estrelas,
conchas, polvos e arraias:
há um mar dentro do mar.

Apalpar estas entranhas,
alquimia de sereias,
é reencontrar o menino
que outro dia viu o mar,
e se pôs a perguntar
se o verbo dos princípios
não seria o verbo almar?

O olho das águas, 2009

LIÇÃO

O poema existe antes do poeta
e é pronto
com suas letras e sílabas
e ritmo.

Ao poeta cumpre
desembaraçar as palavras
e semeá-las,
avenca para não muitos olhos.

O olho das águas, 2009

ERRO DE VOCAÇÃO

Tão fechada era a janela
que o vento
por ali
desconhecia o caminho.

Era uma janela nascida pra ser parede.

Poemas do amor presente, 1980

Edival Perrini

Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +

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