Poemas vivos

TEMPO

Temperatura em elevação,
nuvens isoladas de ausência.

Nebulosidades aumentam
no decorrer do período.

Ao pôr do sol,
pancadas de saudade.

Edival Perrini/ O olho das águas/ 2009

O SINO

Teu nome é um sino imerso no meu peito.
Um pequenino verso que já nasceu feito.
Plange tão silente na manhã festiva
de minha alma cheia,
que o não ouve a gente nem desperta a aldeia.
Nasce tão calado da emoção tão viva
que me cala a boca,
que qualquer pessoa não percebe ao lado
como o sino toca, como o verso soa.

Ivo Barroso/ Nau dos náufragos/ 1981

ÓCIO

ÓCIO

Sanduíches de brisa
e um farnel de gorjeios.

O caminho do sol sugere.

Nesta manhã
nem as formigas trabalham.

Edival Perrini / O olho das águas, 2009

INSETO

Um inseto é mais complexo que um poema
Não tem autor
Move-o uma obscura energia
Um inseto é mais complexo que uma hidrelétrica

Também mais complexo
que uma hidrelétrica
é um poema
(menos complexo que um inseto)

e pode às vezes
(o poema)
com sua energia
iluminar a avenida
ou quem sabe
uma vida

Ferreira Gullar / Em alguma parte alguma, 2010

CARÍCIA

Demore-se no carinho,
de modo que no rosto do outro
vá a mão como se não fora
voltar. Repita,

demorando-se mais,
de modo que a mão descanse
naquele rosto, como se,
e se esqueça de que.

Repita, demore-se no carinho
como se a mão desse adeus,
agarrada ao rosto que se vai.
Outra vez: repita,

demorando-se mais
e mais, como se a mão bebesse
daquele rosto para, saciada, dormir
ali mesmo, ao pé da fonte.

Eucanaã Ferraz/ Rua do Mundo, 2004

Edival Perrini

Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +

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