EXAUSTO
Eu quero uma licença de dormir,
perdão para descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
Eu quero uma licença de dormir,
perdão para descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
selvagens baleias
mergulham das nuvens,
me acendem, me excitam,
amparo de dúvidas
centauro marinho,
promessas de mar,
sereias, seus cantos
caminho das índias?
selvagens baleias
habitam as nuvens,
se as vejo, se ouço
seus surdos vestígios
agarro a fumaça,
mergulho sonhante
em mares, entranhas,
gritantes silêncios
Crédito da imagem: www.cyberartes.com.br
lavo, lavo o meu poema
até deixá-lo limpinho
de tudo o que o impede
de ser claro como a água
lavo, lavo o meu poema
com sabão e com escova
quero que seja escovado
da mais mínima sujeira
lavo, lavo o meu poema
que é só meu, mas é de todos,
sendo limpo, sendo lindo,
cada um o julga seu,
todos o querem para si
lavo, lavo o meu poema
lavo, duas, lavo três
lavo quantas forem precisas
as vezes de o bem lavar
um vento sul me transtorna
náufrago de noite interminável,
resta-me o fulgor da tela em branco
sobreviver é permanecer acordado
dentro do poema
Só o sonho é inevitável. Quanto ao resto,
há sempre a possibilidade aberta
de fazer outro gesto, dizer uma
palavra que é o contrário de si mesma.
De puro há a alucinação, a imagem
de alguma coisa rara escorregando
por entre dedos que se fecham em garra,
grudentos de vazio. (Fora a caneta,
é claro.) De absoluto há sempre o corpo
com seus prolongamentos –braços, pernas,
uma cabeça que inventa tudo-
e essa vontade à toa de ser só
o que a janela mostra, um chão, um poste,
uma paisagem áspera de rua.
Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +