DE NOVO, O POEMA

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A busca carnal pelo poema
deve ser a busca pelo amor
não correspondido, o seio pleno
de leite, vazando no vazio
a cada nova tentativa em vão
da boca.

A busca infernal pelo poema,
a sobrevivência selvagem do
poeta, é transformar metáforas,
sugar a luz, proteína das
palavras. Depois, descansar
nos versos.

Edival Perrini/ www.edivalperrini.com.br / 2013

O POEMA

Não sou eu que escrevo o meu poema:
ele é que se escreve e que se pensa,
como um polvo a distender-se, lento,
no fundo das águas, entre anêmonas
que nos abismos do mar despencam.

Ele é que se escreve com a pena
da memória, do amor, do tormento,
de tudo o que aos poucos se relembra:
um rosto, uma paisagem, a intensa
pulsação da luz manhã a dentro.

Ele se escreve vindo do centro
de si mesmo, sempre se contendo.
É medido, escrito, minudente,
música sem clave ou instrumentos
que se escuta entre o som e o silêncio.

As palavras em que em vão o invento
não são mais que ociosos ornamentos,
e nenhuma gala lhe acrescentam.
Seja belo ou, ao invés, horrendo,
a ele que cabe todo o engenho,

não a mim que apenas o contemplo
como um sonho que se sustenta
sobre o nada, quando o mito e a lenda
eram as vísceras de que o poema
se servia para ir se escrevendo.

Ivan Junqueira/ Essa Musica/ 2014

DAS PALMEIRAS

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para ver você
luminosa
são de treliças as palmas,
são de desejos os ventos

Edival Perrini/ www.edivalperrini.com.br/ 2014

POEMA I DE “O POETA INVENTA VIAGEM, RETORNO, E SOFRE DE SAUDADE”

Se for possível, manda-me dizer:
-É lua cheia. A casa está vazia-
Manda-me dizer, e o paraíso
há de ficar mais perto e mais recente
me há de pertencer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
tão longo como a noite. Se é verdade
que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
de alguns peixes rosados
numas águas
e dos meus pés molhados, manda-me dizer:
-É lua nova-
E revestida de luz te volto a ver.

Hilda Hilst / Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão, 2001

BATISMO

abraco

Fazer-se ao mar
como quem se joga num abraço
e respira.

Edival Perrini/ O olho das águas, 2009

Edival Perrini

Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +

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