NEM AÍ…
Indiferente
ao suposto prestígio literário
e ao trabalho
do poeta
à difícil faina
a que se entrega para
inventar o dizível,
sobre a mesa
o gatinho
se espreguiça
e deita-se e
adormece
em cima do poema.
Indiferente
ao suposto prestígio literário
e ao trabalho
do poeta
à difícil faina
a que se entrega para
inventar o dizível,
sobre a mesa
o gatinho
se espreguiça
e deita-se e
adormece
em cima do poema.
O que não cabe em palavras,
cabe no corpo. E o corpo
quando diz dá ou quando diz é
carrega um mundo além do meu.
A vida é tempo de vestígios
que tenho para decifrar
o que o corpo conhece e
diz em espasmos difusos.
A explosão é iminente.
Meu corpo é corpo de delito.
O que cabe neste corpo?
Se me incito, ele assombra.
Se me calo, ele grita.
Se me escondo, ele mostra.
Crédito da foto: ”Projeto Medicina”/ www.projetomedicina.com.br
O ventilador do teto
é o esquema de uma ave presa
no sem-teto do céu baixo.
Dentro, sempre, do mesmo circuito
curto, onde apenas a velocidade se altera
e a direção do giro de sua viagem previsível.
Flechada no cimento, vive e morre
a aventura rotineira do dia a dia
do vento preestabelecido, ou não.
O ruído das pás, do passar de suas asas
sem penas (só parará com uma pane)
se entretém, se entretece
com a respiração do sono, pausada
sob o calor ligado do verão:
puxo o mar dos pés para me cobrir.
Guardar o mar na retina
feito um cisco que a dor
afina e fere e fixa.
Marcar pra não esquecer
o mar, e não suas ondas,
não sua cor, nem sua luz,
mas o mar enquanto fonte,
oceano.
Quando já não for possível encontrar-me
em nenhum ponto da cidade
ou do planeta
pensa
ao veres no horizonte
sobre o mar de Copacabana
uma nesga azul de céu
pensa que resta alguma coisa de mim
por aqui
Não te custará nada imaginar
que estou sorrindo ainda naquela nesga
azul celeste
pouco antes de dissipar-me para sempre.
Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +