DUAS BAGATELAS (poema I)
O que conheço de mim
é quase só o que sei,
e o que sei é quase só
o que não quero saber.
Resta saber se isso tudo
é só o começo ou se é o fim
ou – o que é pior que tudo –
se é tudo.
O que conheço de mim
é quase só o que sei,
e o que sei é quase só
o que não quero saber.
Resta saber se isso tudo
é só o começo ou se é o fim
ou – o que é pior que tudo –
se é tudo.
Entre o ver
e a certeza de que você está,
há um poço de prazer
e sobressalto.
No assalto deste instante
distraído mareante
me abasteço.
Eu que sou o pedaço,
o bagaço,
solitário caroço abjeto,
com você
fruto completo.
Tags: bagaço, certeza, fruto completo, instante, mareante, pedaço, poço de prazer, sobressalto, ver
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
Tags: alaranjado, amanhecendo, casa, impressionista, ocasião
no sonho e no poema,
por não poder
me distraio
no sonho e no poema
há um poço,
raio que verte versos
se ouço
no sonho e no poema
há ossos,
manto de agonia
e espanto
no sonho e no poema,
por não poder
é que posso
O menino ia no mato
e a onça comeu ele.
Depois o caminhão passou por dentro do corpo do
menino.
E ele foi contar para a mãe.
A mãe disse: Mas se a onça comeu você, como é que
o caminhão passou por dentro do seu corpo?
É que o caminhão só passou renteando meu corpo
e eu desviei depressa.
Olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia.
Eu não preciso de fazer razão.
Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +