Tag: Chico Buarque

A MOÇA DO SONHO

Súbito me encantou
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó.

Por encanto voltou
Cantando à meia-voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu

Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo, talvez.

Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais.

Edu Lobo e Chico Buarque/ Cambaio/ 2001

FUTUROS AMANTES

Não se afobe, não
Que nada é pra já.
O amor não tem pressa
Ele pode esperar
Em silêncio
Num fundo de armário
Na posta restante
Milênios, milênios
No ar.

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa.
Os escafandristas virão
Explorar sua casa,
Seu quarto, suas coisas,
Sua alma, desvãos.

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras,
Fragmentos de cartas, poemas,
Mentiras, retratos,
Vestígios de estranha civilização.

Não se afobe, não,
Que nada é pra já.
Amores são sempre amáveis.
Futuros amantes, quiçá,
Se amarão sem saber
Com o amor que um dia
Deixei pra você.


Chico Buarque / Chico ao Vivo

Edival Perrini

Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +

Arquivo

Newsletter

Cadastre-se e receba nosso boletim informativo:

Aceito receber emails