Guardo sua marca em segredo
na intimidade da contraluz.
Não é cicatriz, nem tatuagem.
É a marca -d’água do seu corpo
no meu, que a vista vislumbra
em algum espelho memorioso
refletido, circunspecto, que fica
no fundo do corredor, na altura
do peito, na linha do coração.
Súbito me encantou
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó.
Por encanto voltou
Cantando à meia-voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu
Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo, talvez.
Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais.
Nenhum comentário
Tags: bazar, casarão, Chico Buarque, contraluz, Edu Lobo, encanto, lugar, mãos, meia-voz, moça, moça do sonho, nó, pó, rosto, sonhos, sonhos extraviados., vestido, voz