Debruçado na tarde lanço a mais triste rede
aos teus olhos oceânicos.
Nela se estende e arde na mais alta fogueira
minha solidão que gira os braços como um náufrago.
Faço rubros sinais a teus olhos ausentes
que ondulam, como à beira de um farol, o oceano.
Guardas apenas trevas, fêmea longínqua e minha.
De teu olhar emerge às vezes o litoral do espanto.
Debruçado na tarde lanço a mais triste rede
a esse mar que sacode os teus olhos oceânicos.
Os pássaros noturnos bicam as primeiras estrelas
que cintilam como minha alma quando te amo.
A noite galopa em sua égua sombria
esparramando azuis espigas pelo campo.
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A pulga que picou Murilo Mendes
veio pular aqui na minha rede;
não me perguntem como adivinhá-la,
não há ciência mas eu sei que é ela;
decerto mais vetusta que Murilo,
à sombra das pirâmides do Egito,
picara escribas, sacerdotes, putas,
saltando sobre as altas sepulturas;
para mim é uma honra e uma alegria
pulga assim, tão velha e tão distinta,
sugar-me o sangue e no seu sangue-síntese
juntar-me a tanto e, por conseguinte,
ó ectoparasita hematófago,
o teu salto há de ser minha metáfora
para dizer tudo o que sei do nada
que sei de nossa pouca eternidade.
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