Tag: rede

POEMA DE AMOR 7

Debruçado na tarde lanço a mais triste rede
aos teus olhos oceânicos.

Nela se estende e arde na mais alta fogueira
minha solidão que gira os braços como um náufrago.

Faço rubros sinais a teus olhos ausentes
que ondulam, como à beira de um farol, o oceano.

Guardas apenas trevas, fêmea longínqua e minha.
De teu olhar emerge às vezes o litoral do espanto.

Debruçado na tarde lanço a mais triste rede
a esse mar que sacode os teus olhos oceânicos.

Os pássaros noturnos bicam as primeiras estrelas
que cintilam como minha alma quando te amo.

A noite galopa em sua égua sombria
esparramando azuis espigas pelo campo.

Pablo Neruda/ 20 Poemas de Amor e uma Canção Desesperada/ 1942

SANGUE DO MEU SANGUE

A pulga que picou Murilo Mendes
veio pular aqui na minha rede;
não me perguntem como adivinhá-la,
não há ciência mas eu sei que é ela;

decerto mais vetusta que Murilo,
à sombra das pirâmides do Egito,
picara escribas, sacerdotes, putas,
saltando sobre as altas sepulturas;

para mim é uma honra e uma alegria
pulga assim, tão velha e tão distinta,
sugar-me o sangue e no seu sangue-síntese
juntar-me a tanto e, por conseguinte,

ó ectoparasita hematófago,
o teu salto há de ser minha metáfora
para dizer tudo o que sei do nada
que sei de nossa pouca eternidade.

Eucanaã Ferraz/ Sentimental/ 2012

Edival Perrini

Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +

Arquivo

Newsletter

Cadastre-se e receba nosso boletim informativo:

Aceito receber emails