
Na foto fora de foco
não está a imagem
verdadeira
que evito?
Se me reconheço nela,
e se cala a dúvida
teimosa
que não se calava,
isto é cair em si?
E o trovão que vem depois
é anúncio da tempestade
ou o sinal
definitivo
de que ainda cabe uma arca?
Só o sonho é inevitável. Quanto ao resto,
há sempre a possibilidade aberta
de fazer outro gesto, dizer uma
palavra que é o contrário de si mesma.
De puro há a alucinação, a imagem
de alguma coisa rara escorregando
por entre dedos que se fecham em garra,
grudentos de vazio. (Fora a caneta,
é claro.) De absoluto há sempre o corpo
com seus prolongamentos –braços, pernas,
uma cabeça que inventa tudo-
e essa vontade à toa de ser só
o que a janela mostra, um chão, um poste,
uma paisagem áspera de rua.