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CORPO DE DELITO

corpo de delito

O que não cabe em palavras,
cabe no corpo. E o corpo
quando diz dá ou quando diz é
carrega um mundo além do meu.

A vida é tempo de vestígios
que tenho para decifrar
o que o corpo conhece e
diz em espasmos difusos.

A explosão é iminente.
Meu corpo é corpo de delito.

O que cabe neste corpo?
Se me incito, ele assombra.
Se me calo, ele grita.
Se me escondo, ele mostra.

Crédito da foto:  ”Projeto Medicina”/ www.projetomedicina.com.br

Edival Perrini/ Revista Ide, 62/ 2017

DE NOVO, O POEMA

poema imagem

A busca carnal pelo poema
deve ser a busca pelo amor
não correspondido, o seio pleno
de leite, vazando no vazio
a cada nova tentativa em vão
da boca.

A busca infernal pelo poema,
a sobrevivência selvagem do
poeta, é transformar metáforas,
sugar a luz, proteína das
palavras. Depois, descansar
nos versos.

Edival Perrini/ www.edivalperrini.com.br / 2013

FUTUROS AMANTES

Não se afobe, não
Que nada é pra já.
O amor não tem pressa
Ele pode esperar
Em silêncio
Num fundo de armário
Na posta restante
Milênios, milênios
No ar.

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa.
Os escafandristas virão
Explorar sua casa,
Seu quarto, suas coisas,
Sua alma, desvãos.

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras,
Fragmentos de cartas, poemas,
Mentiras, retratos,
Vestígios de estranha civilização.

Não se afobe, não,
Que nada é pra já.
Amores são sempre amáveis.
Futuros amantes, quiçá,
Se amarão sem saber
Com o amor que um dia
Deixei pra você.


Chico Buarque / Chico ao Vivo

POEMA DE MAIO



O poema
roça o abril da garganta
e multiplica seu tecido
de palavras.

Será um poema de maio.

Terá a luz da palavra
luz
e o brilho da palavra estrela.

Depois
haverá o abraço frio do outono
e o verbo
desaparecerá.

 

Edival Perrini/ Pomar de águas/ 1993

Edival Perrini

Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +

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