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EXAUSTO

Eu quero uma licença de dormir,
perdão para descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

Adélia Prado/ Bagagem/ 2003

O BURACO DO ESPELHO

O buraco do espelho está fechado,
Agora eu tenho que ficar aqui
Com um olho aberto, outro fechado,
No lado de lá onde eu caí.

Pro lado de cá, não tem acesso,
Mesmo que me chamem pelo nome
Mesmo que admitam meu regresso
toda a vez que eu vou a porta some.

A janela some na parede
A palavra de água se dissolve
Na palavra sede, a boca cede
Antes de falar e não se ouve.

Já tentei dormir a noite inteira
Quatro, cinco, ou seis da madrugada.
Vou ficar ali nessa cadeira,
Uma orelha atenta, outra ligada.

O buraco do espelho está fechado.
Agora eu tenho que ficar agora
Fui pelo abandono abandonado
Aqui dentro do lado de fora.

Arnaldo Antunes in “Erótica: os Sentidos da Arte”, Espaço Banco do Brasil, São Paulo, out./2005 a jan./2006)

CARÍCIA

Demore-se no carinho,
de modo que no rosto do outro
vá a mão como se não fora
voltar. Repita,

demorando-se mais,
de modo que a mão descanse
naquele rosto, como se,
e se esqueça de que.

Repita, demore-se no carinho
como se a mão desse adeus,
agarrada ao rosto que se vai.
Outra vez: repita,

demorando-se mais
e mais, como se a mão bebesse
daquele rosto para, saciada, dormir
ali mesmo, ao pé da fonte.

Eucanaã Ferraz/ Rua do Mundo, 2004

Edival Perrini

Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +

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