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A RODA

roda

Quando o rio cansa de ser
líquido,
fluir, fluir,
suas águas evaporam.

Quando as nuvens cansam de ser
efêmeras,
voar, voar,
suas névoas despencam.

Quando a chuva cansa de ser
lírica,
pingar, pingar,
suas águas rodam-se rio de novo.

Edival Perrini/ www.edivalperrini.com.br/ 2015

POEMA XIX de UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

Manoel de Barros/ O livro da ignorãças/ 1993

O RIO

Ouve o barulho do rio, meu filho,
deixa esse som te embalar.
As folhas que caem no rio, meu filho,
terminam nas águas do mar.

Quando amanhã por acaso faltar
uma alegria no seu coração
lembra do som dessas águas de lá
faz desse rio a sua oração.

Lembra meu filho, passou, passará
essa certeza a ciência nos dá
que vai chover quando o sol se cansar
para que flores não faltem,
para que flores não faltem jamais.

Seu Jorge/ Carlinhos Brown/ Arnaldo Antunes/ Marisa Monte/ Infinito particular/ 2005

DE PASSARINHOS

Para compor um tratado sobre passarinhos
é preciso por primeiro que haja um rio com árvores
e palmeiras às margens.
E dentro dos quintais das casas que haja pelo menos
goiabeiras.
E que haja por perto brejos e iguarias de brejos.
É preciso que haja insetos para os passarinhos.
Insetos de pau sobretudo que são os mais palatáveis.
A presença de libélulas seria uma boa.
O azul é muito importante na vida dos passarinhos
porque os passarinhos precisam antes de belos ser
eternos.
Eternos que nem uma fuga de Bach.

Manoel de Barros/ Tratado geral das grandezas do ínfimo, 2001

FUTUROS AMANTES

Não se afobe, não
Que nada é pra já.
O amor não tem pressa
Ele pode esperar
Em silêncio
Num fundo de armário
Na posta restante
Milênios, milênios
No ar.

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa.
Os escafandristas virão
Explorar sua casa,
Seu quarto, suas coisas,
Sua alma, desvãos.

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras,
Fragmentos de cartas, poemas,
Mentiras, retratos,
Vestígios de estranha civilização.

Não se afobe, não,
Que nada é pra já.
Amores são sempre amáveis.
Futuros amantes, quiçá,
Se amarão sem saber
Com o amor que um dia
Deixei pra você.


Chico Buarque / Chico ao Vivo

Edival Perrini

Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +

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