Nasceu no meu jardim um pé de mato
que dá flor amarela.
Toda a manhã vou lá pra escutar a zoeira
da insetaria na festa.
Tem zoado de todo jeito:
tem do grosso, do fino, de aprendiz e de mestre.
É pata, é asa, é boca, é bico,
é grão de poeira e pólen na fogueira do sol.
Parece que a arvorinha conversa.
Um comentário
Tags: Adélia Prado, anímico, asa, festa, flor amarela, jardim, manhã, pata, pé de mato, pólen, sol, zoeira

na sua manhã
Curitiba
respiro a cerração
das nuvens que dormiram com você

Crédito da foto: Claudinho Brasil
A manhã vai longe
quando os pássaros dormem
e as cores sonham
o prefácio do dia.

Crédito da foto: Gustavo Asciutti.
Homem em pé sobre a canoa
pesca a manhã de cada dia,
noventa graus de poesia.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo,
que tecido, se eleva por si: luz balão.
Nenhum comentário
Tags: aéreo, armação, balão, fios, galo, grito, gritos, João Cabral, manhã, teia, tenda, toldo