
Entre o ver
e a certeza de que você está,
há um poço de prazer
e sobressalto.
No assalto deste instante
distraído mareante
me abasteço.
Eu que sou o pedaço,
o bagaço,
solitário caroço abjeto,
com você
fruto completo.

Um sonho feito balão
pressente o rumo do mar,
que chão de mar é molhado
e liso e fofo e alado
como carece ser chão
pra empinar sonho e gente.
Escafandrista de sonho
não diz que mar não dá pé.
Mergulha os olhos na água,
não dá bola pra marola,
ignora sombra e lama,
olha e vê, como vê!
Vê que gaivota é um peixe
que pulou fora do mar.
Daí que olhar seus avanços,
balanços e acrobacias,
traz um ar de nostalgia.
Saudades do vasto mar?
Vê a vida o mareante,
cavalga as algas e areias,
descasca o fruto-mar.
Aí se acendem estrelas,
conchas, polvos e arraias:
há um mar dentro do mar.
Apalpar estas entranhas,
alquimia de sereias,
é reencontrar o menino
que outro dia viu o mar,
e se pôs a perguntar
se o verbo dos princípios
não seria o verbo almar?
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Tags: água, algas, areia, balão, escafandrista, gaivota, mar, mareante, marola, marulhos, nostalgia, peixe, sereias, sonho, verbo