Tag: nuvens

A RODA

roda

Quando o rio cansa de ser
líquido,
fluir, fluir,
suas águas evaporam.

Quando as nuvens cansam de ser
efêmeras,
voar, voar,
suas névoas despencam.

Quando a chuva cansa de ser
lírica,
pingar, pingar,
suas águas rodam-se rio de novo.

Edival Perrini/ www.edivalperrini.com.br/ 2015

para Gabo

para Gabo

selvagens baleias
mergulham das nuvens,
me acendem, me excitam,
amparo de dúvidas

centauro marinho,
promessas de mar,
sereias, seus cantos
caminho das índias?

 selvagens baleias
habitam as nuvens,
se as vejo, se ouço
seus surdos vestígios

agarro a fumaça,
mergulho sonhante
em mares, entranhas,
gritantes silêncios

 

Crédito da imagem: www.cyberartes.com.br

Edival Perrini/ www.edivalperrini.com.br/ 2015

A CERIMÔNIA DAS NUVENS

Nuvens

1.

Imenso papel azul
estende-se sobre a Terra.
Plural o que nele cabe,
acolhe a palavra nuvem.

A nuvem é singular
no mundo-dicionário,
mas se livre, é ave lépida,
vive em bandos, coletiva.

De seu ninho, vento e água,
flui bálsamo fecundo,
e a bruma deste cio
exige contemplação.

2.

Não cabe no peito
a cerimônia das nuvens
quando tinge de arabescos
o papel azul do céu.

É quando as nuvens estouram:
surgem velas peixes
monstros
bizarros gigantes que andam.

Se olhamos, não colhemos
a completa intenção
do celeiro transformante.

Mudam sempre os enredos
por contínua invenção?
Ou as formas são andantes
pois que buscam posição
para espiar nossos segredos?

Incomunicáveis,
as nuvens tecem casulo
de onde voarão
estrelas.

3.

O prazer do movimento
se retira,
ganha o ar novo alento,
geometria.

Surgem retas e quadrados,
olaria,
singular jogo de dados,
sintonia.

Surgem sombras ao esquadro,
contramão
de desejos ansiados,
ilusão.

Popular ensinamento
denuncia:
céu pedrento é chuva ou vento,
poesia.

4.

O dentro da palavra céu
esconde a seiva e os vapores,
tintura de sonhos e cores,
da alma das algas do mar.

Cardume de tintas agrestes
esculpe com asas e alarde
fantástica teia no oeste,
a paz em laranja das tardes.

De repente, o movimento
desmancha a fotografia,
rolam pedras, rola o vento
desperta a artilharia.

Céu de britas, não de nuvens,
arrebenta algum tinteiro
que guardava só o cinza,
cor retida em cativeiro.

Livre o cinza se espalha,
não de leve, se amontoa.
Vejo que entra desta dor
no segredo das pessoas.

5.

Encharcado,
de horizonte a horizonte,
vibra o ar
seus arpejos de fonte.

Pressionado,
roga o mar sua origem,
a saudade
impõe às nuvens vertigem.

Abafado,
todo o cinza se encurva,
principia
a cerimônia da chuva.

Edival Perrini/ O olho das águas/ 2009

CURITIBA

Curitiba

na sua manhã
Curitiba
respiro a cerração
das nuvens que dormiram com você

Edival Perrini/ Armazém de ecos e achados/ 2001

TEMPO

Temperatura em elevação,
nuvens isoladas de ausência.

Nebulosidades aumentam
no decorrer do período.

Ao pôr do sol,
pancadas de saudade.

Edival Perrini/ O olho das águas/ 2009

Edival Perrini

Edival Antonio Lessnau Perrini nasceu em Curitiba-PR, em 23 de outubro de 1948, onde cresceu e reside. Saiba +

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