
Naquela praia existe um morro,
naquele morro uma pedra existe,
naquela pedra jazia um peixe.
Impressionou-me o olhar daquele peixe.
Ele continha uma saudade enorme,
fatal, definitiva,
(maior que a minha).
Custou-me lágrimas olhar o olhar daquele peixe.
Crédito do desenho: Valdyr Grecca Perrini
Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar, meu bem-querer.
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom, eu vou trazer.
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer.
Adeus, adeus,
Pescador não se esqueça de mim.
Vou rezar pra ter bom tempo, meu bem,
Pra não ter tempo ruim.
Vou fazer sua caminha macia
Perfumada de alecrim.
Dorival Caymmi

Um sonho feito balão
pressente o rumo do mar,
que chão de mar é molhado
e liso e fofo e alado
como carece ser chão
pra empinar sonho e gente.
Escafandrista de sonho
não diz que mar não dá pé.
Mergulha os olhos na água,
não dá bola pra marola,
ignora sombra e lama,
olha e vê, como vê!
Vê que gaivota é um peixe
que pulou fora do mar.
Daí que olhar seus avanços,
balanços e acrobacias,
traz um ar de nostalgia.
Saudades do vasto mar?
Vê a vida o mareante,
cavalga as algas e areias,
descasca o fruto-mar.
Aí se acendem estrelas,
conchas, polvos e arraias:
há um mar dentro do mar.
Apalpar estas entranhas,
alquimia de sereias,
é reencontrar o menino
que outro dia viu o mar,
e se pôs a perguntar
se o verbo dos princípios
não seria o verbo almar?
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