
A busca carnal pelo poema
deve ser a busca pelo amor
não correspondido, o seio pleno
de leite, vazando no vazio
a cada nova tentativa em vão
da boca.
A busca infernal pelo poema,
a sobrevivência selvagem do
poeta, é transformar metáforas,
sugar a luz, proteína das
palavras. Depois, descansar
nos versos.
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Tags: amor, boca, busca, descansar, infernal, leite, luz, metáforas, palavras, poema, poeta, seio, selvagem, versos
O buraco do espelho está fechado,
Agora eu tenho que ficar aqui
Com um olho aberto, outro fechado,
No lado de lá onde eu caí.
Pro lado de cá, não tem acesso,
Mesmo que me chamem pelo nome
Mesmo que admitam meu regresso
toda a vez que eu vou a porta some.
A janela some na parede
A palavra de água se dissolve
Na palavra sede, a boca cede
Antes de falar e não se ouve.
Já tentei dormir a noite inteira
Quatro, cinco, ou seis da madrugada.
Vou ficar ali nessa cadeira,
Uma orelha atenta, outra ligada.
O buraco do espelho está fechado.
Agora eu tenho que ficar agora
Fui pelo abandono abandonado
Aqui dentro do lado de fora.
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Tags: abandono., acesso, água, Arnaldo Antunes, boca, buraco, cadeira, dormir, espelho, janela, lado, madrugada, nome, olho, orelha, porta, regresso, sede
Teu nome é um sino imerso no meu peito.
Um pequenino verso que já nasceu feito.
Plange tão silente na manhã festiva
de minha alma cheia,
que o não ouve a gente nem desperta a aldeia.
Nasce tão calado da emoção tão viva
que me cala a boca,
que qualquer pessoa não percebe ao lado
como o sino toca, como o verso soa.