Guardo sua marca em segredo
na intimidade da contraluz.
Não é cicatriz, nem tatuagem.
É a marca -d’água do seu corpo
no meu, que a vista vislumbra
em algum espelho memorioso
refletido, circunspecto, que fica
no fundo do corredor, na altura
do peito, na linha do coração.
Ouve o barulho do rio, meu filho,
deixa esse som te embalar.
As folhas que caem no rio, meu filho,
terminam nas águas do mar.
Quando amanhã por acaso faltar
uma alegria no seu coração
lembra do som dessas águas de lá
faz desse rio a sua oração.
Lembra meu filho, passou, passará
essa certeza a ciência nos dá
que vai chover quando o sol se cansar
para que flores não faltem,
para que flores não faltem jamais.
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Verte
do verdor
da alga
algo
além da cor.
Talvez
ao ver-se
vista,
a alga
pulse
o coração
de ciscos
e
a verdura
do verbo
alga
musgue
o olhar.
Talvez
ao me ver
vendo-a,
a alga
veja-se
tocada:
verde verde,
verde.
O amor tem feito coisas
que até mesmo deus duvida,
já curou desenganados,
já fechou tanta ferida.
O amor junta os pedaços
quando o coração se quebra,
mesmo que seja de aço,
mesmo que seja de pedra.
E fica tão cicatrizado
que ninguém diz que é colado;
foi assim que fez em mim,
foi assim que fez em nós
este amor iluminado.
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