
A busca carnal pelo poema
deve ser a busca pelo amor
não correspondido, o seio pleno
de leite, vazando no vazio
a cada nova tentativa em vão
da boca.
A busca infernal pelo poema,
a sobrevivência selvagem do
poeta, é transformar metáforas,
sugar a luz, proteína das
palavras. Depois, descansar
nos versos.
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Se for possível, manda-me dizer:
-É lua cheia. A casa está vazia-
Manda-me dizer, e o paraíso
há de ficar mais perto e mais recente
me há de pertencer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
tão longo como a noite. Se é verdade
que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
de alguns peixes rosados
numas águas
e dos meus pés molhados, manda-me dizer:
-É lua nova-
E revestida de luz te volto a ver.
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Se o sol nela
batesse
em cheio
por exemplo
numa mesa posta
no jardim
imediatamente se formaria
um pequeno lago
de luz

Quando a noite invade os pássaros,
voos derramam-se em luz:
manhas da manhã,
pouso feito a bico
com mil gravetos de som.

O poema
roça o abril da garganta
e multiplica seu tecido
de palavras.
Será um poema de maio.
Terá a luz da palavra
luz
e o brilho da palavra estrela.
Depois
haverá o abraço frio do outono
e o verbo
desaparecerá.
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