
O que não cabe em palavras,
cabe no corpo. E o corpo
quando diz dá ou quando diz é
carrega um mundo além do meu.
A vida é tempo de vestígios
que tenho para decifrar
o que o corpo conhece e
diz em espasmos difusos.
A explosão é iminente.
Meu corpo é corpo de delito.
O que cabe neste corpo?
Se me incito, ele assombra.
Se me calo, ele grita.
Se me escondo, ele mostra.
Crédito da foto: ”Projeto Medicina”/ www.projetomedicina.com.br

A busca carnal pelo poema
deve ser a busca pelo amor
não correspondido, o seio pleno
de leite, vazando no vazio
a cada nova tentativa em vão
da boca.
A busca infernal pelo poema,
a sobrevivência selvagem do
poeta, é transformar metáforas,
sugar a luz, proteína das
palavras. Depois, descansar
nos versos.
Um comentário
Tags: amor, boca, busca, descansar, infernal, leite, luz, metáforas, palavras, poema, poeta, seio, selvagem, versos
Não se afobe, não
Que nada é pra já.
O amor não tem pressa
Ele pode esperar
Em silêncio
Num fundo de armário
Na posta restante
Milênios, milênios
No ar.
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa.
Os escafandristas virão
Explorar sua casa,
Seu quarto, suas coisas,
Sua alma, desvãos.
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras,
Fragmentos de cartas, poemas,
Mentiras, retratos,
Vestígios de estranha civilização.
Não se afobe, não,
Que nada é pra já.
Amores são sempre amáveis.
Futuros amantes, quiçá,
Se amarão sem saber
Com o amor que um dia
Deixei pra você.
Um comentário
Tags: amantes, amáveis, ar, armário, Chico Buarque, cidade, civilização, coisas, escafandrista, esperar, futuro, milênios, palavras, pressa, rio

O poema
roça o abril da garganta
e multiplica seu tecido
de palavras.
Será um poema de maio.
Terá a luz da palavra
luz
e o brilho da palavra estrela.
Depois
haverá o abraço frio do outono
e o verbo
desaparecerá.
2 comentários
Tags: abraço, abril, brilho, estrela, frio, garganta, luz, maio, outono, palavras, poema, tecido, verbo